Há 153 anos era declarado por Decreto (Dec. nº 1379 de 6/11/1868) o fim da vila de SANTO ANTÔNIO DE SÁ, que foi transferido para “o arraial” da FREGUESIA de Sant’Anna de Macacu e posteriormente, em 1875, foi anexada ao município de Itaboraí. Era o fim daquela que chegou a ser a 4ª maior Vila do Brasil.
A Vila de Santo Antônio de Sá foi a 2ª Vila fundada no Estado do Rio de Janeiro, sua necessidade surge após a expulsão dos Franceses da Cidade do Rio de Janeiro. A Coroa Portuguesa iniciou uma política de distribuição de terras no entorno do chamado RECÔNCAVO DA GUANABARA, tendo na sua entrada os morros do Pão de Açúcar, Cara de Cão e Urca de um lado e a cidade de Niterói do outro da baía, estendendo-se até a atual Magé (na Baixada Fluminense). Com objetivo de povoar essa enorme região do entorno, controlar as rotas para o interior, restringir o acesso as minas do interior (região da atual Cantagalo e divisa com MG) e se prevenir de futuras investidas daqueles que foram o grande inimigo de Portugal em terras cariocas, os CORSÁRIOS FRANCESES a ocupação se iniciou as margens do RIO MACACU.
O primeiro donatário a receber sesmarias do Governador Geral, TOMÉ DE SOUZA, foi Miguel de Moura, escrivão da Fazenda, que após um tempo as doou para os jesuítas. Após isso houve um desenvolvimento da região com a criação do aldeamento de São Barnabé, atual ITAMBI, distrito de Itaboraí, e se estabeleceram igualmente na Fazenda do Colégio, hoje PAPUCAIA, distrito de Cachoeiras de Macacu. Nascia a Freguesia de Santo Antônio de Macacu ou CASSERIBU. Com a expulsão dos jesuítas da colônia ela passa ser administrada pelo Governador da Capitania do Rio de Janeiro, Capitão-General Artur de Sá e Menezes, que a eleva a categoria de VILA e acrescenta uma parte de seu nome, virando Santo Antonio de Sá.
Em fins do século 18, a Vila de Santo Antônio de Sá já era composta por diversas freguesias: Santo Antônio de Sá (a sua sede), Nossa Senhora d’Ajuda de Cernambitiba, Nossa Senhora do Desterro de Itamby; Santíssima Trindade (hoje o município de GUAPIMIRIM); São João de Itaborahy (hoje município de ITABORAÍ); Nossa Senhora da Conceição de Tapacorá; Nossa Senhora da Conceição de RIO BONITO (hoje município do mesmo nome); Nossa Senhora da Piedade de Magé (hoje município de MAGÉ) e na Aldeia de São Barnabé (depois São José d’Rey). Torna-se a Vila mais importante do Recôncavo da Guanabara. Com a instalação de uma Câmara de Vereadores, passou a ter o direito a cobrar impostos e baixar “posturas” (espécie de leis municipais), receber um “juiz de for a”, pelourinho e cadeia pública.
A guerra travada contra os holandeses no nordeste destruiu três conventos franciscanos, o pequeno Convento de Macacu passou a receber esses frades, por isso foi decidida a reforma e ampliação das instalações, mudando seu nome para CONVENTO DE SÃO BOAVENTURA (Foto acima das atuais ruínas), no Distrito de Porto das Caixas, e é cronologicamente a quinta construção conventual da Ordem Franciscana do Brasil. O nome Boaventura é uma homenagem a um dos grandes doutores franciscanos do passado, o que reflete a preocupação com formação de noviços do convento. A mão de obra utilizada foi de negros africanos e indígenas escravizados. Em 04 de fevereiro de 1670, o convento foi inaugurado e os frades passaram a habitá-lo, o convento objetivava formar missionários, iniciando o noviciado em 1672. Pelo silêncio do lugar e pela distância do burburinho da Cidade do Rio de Janeiro, que começava a crescer, o local era ideal para os candidatos à vida franciscana fazerem seu “ANO DE PROVAÇÃO” na vida religiosa. Os frades franciscanos também se empenharam na assistência religiosa na bacia do Rio Macacu e na conversão dos índios da região.
Havia alguns engenhos de médio e de pequeno porte que produziam melaço e rapadura. Os maiores produziam açúcar. Alguns economicamente mais bem situados produziam AGUARDENTE, importante moeda de troca na compra de negros escravizados. O engenho era um centro economicamente vivo e ativo, dando origem a uma série de outras atividades econômicas, que ajudavam a manter a vida no lugar. No Governo de MARQUÊS DE LAVRADIO, foi realizado um estudo, no ano de 1779, aonde constava a relação de todos os engenhos da capital. A região do “VALE DO MACACU” em Santo Antônio de Sá possuía: 17 engenhos e 2 engenhocas de aguardente, que produziam 255 caixas de açúcar e 197 pipas de cachaça. A Vila de Santo Antônio de Sá nesta época também alcançou o posto de maior produtora de madeira da capitania do Rio de Janeiro. Toda essa produção era escoada pelos vários rios que existiam: Macacú, Guapimirim, Caceribú, Guapiaçu, Piracinanga, Guaxindimba e outros que tiveram seus cursos alterados durante o tempo.
Na década de 1780, a região já possuía em torno de oitenta engenhos que embarcavam sua produção em 24 portos fluviais em caixas de madeira (origem do nome PORTO DE CAIXAS). O açúcar era também embalado em cerâmicas produzidas nas próprias fazendas, o que gerou a tradição das OLARIAS que persiste até hoje no município aonde os OLEIROS expõem e vendem sus produtos na beira da BR-101, entre hoje Tanguá até Itaboraí.
Com o aumento da população na região e a alteração do curso dos rios, os períodos de chuva abundantes passaram a alagar muito a planície, inutilizando terras e formando pântanos. Isto motivou a proliferação dos mosquitos transmissores da FEBRE AMARELA e da MALÁRIA. No ano de 1829, tem início uma sequência de surtos epidêmicos, conhecidos como “FEBRES DE MACACU” tornam-se endêmicas, com grande perda de vidas e um significativo processo de êxodo rural. O golpe de misericórdia para a Vila de Santo Antônio de Sá vem com a inauguração da ESTRADA DE FERRO CANTAGALO que ia de Porto das Caixas ao Arraial da Cachoeira (atual sede do Município de CACHOEIRA DE MACACU), deslocando o eixo de circulação de pessoal e mercadorias para a nova Estrada de Ferro, situada no sopé da Serra. No dia 06 de novembro de 1868 é decretado pelo Imperador o fim da Vila e sua anexação a Freguesia de Itaboraí a transformando em Vila.
Com a escolha da região para a construção do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (COMPERJ) parecia que a região iria reviver seu passado grandioso. A cidade de Itaboraí experimentou um “boom” imobiliário, mas a crise advinda com as investigações sobre a corrupção na PETROBRÁS decorrentes da Operação Lava Jato fizeram com que todo investimento parasse. A região das ruínas se encontra sobre vigilância do Consórcio da COMPERJ, que tinha se comprometido com o Ministério Público realizar sua restauração. As ruínas são a relíquia de um passado colonial pujante e que merecem um melhor destino do que o abandono atual.
Que o futuro reserve um destino melhor para os resquícios de nosso passado !!!
André Luiz Silva Marinho
(Contramestre de capoeira Angola e pesquisador de cultura popular)
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