Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email

Notícias

Parabéns PORTELA – Cem anos da majestade do samba 

April 20, 2023

Nasceu em Oswaldo Cruz, bairro que era da zona rural da cidade do RJ, região povoada após a Abolição da escravatura pelos negros que trabalhavam nas Fazendas da antiga Freguesia de Irajá, que abastecia de gado a capital do Império, depois de levados para o matadouro da Penha. Numa segunda etapa a região passa a ser ocupada pelos negros oriundos do Vale do Paraíba. A maior parte das terras pertencia ao português MIGUEL GONÇALVES PORTELA, que deu nome a principal via da região, Estrada do Portela. 

Com o tempo, após a implantação da Estrada de ferro Dom Pedro II, o bairro foi se integrando ao Centro da cidade e os bairros próximos. A oralidade explica que foi nessa época, início do século XX, o bairro passou a ser frequentado pela TURMA DO ESTÁCIO, que ia tomar uns “passes” nos inúmeros terreiros de MACUMBA CARIOCA que existiam na região, além das festas de JONGO, iniciados pelo povo do Vale do Café. Personagens centrais do samba foram levados para lá, através da famosa Dona Benedita, (tia de Natal, outra lenda da região), moradora do bairro do Estácio era amiga de BRANCURA, ISMAEL SILVA e BAIACO e após as “consultas” com os pretos velhos e caboclos viravam a noite cantando sambas e ensinando o novo ritmo desenvolvido por eles, que fugia do MAXIXE da época. 

Nesse cenário, surgem os primeiros blocos da região na década de 20 do século passado: QUEM FALA DE NÓS COME MOSCA e BAIANINHAS DE OSWALDO CRUZ (considerado o embrião da escola em 11/04/1923). Os dois movimentos nascem da iniciativa de nomes lendários na história do samba como Antonio Caetano, Paulo e Rufino. Os ensaios muitas vezes eram dentro do trem entre a Central do Brasil e Oswaldo, que era a última estação da linha, na volta do trabalho. Isso impedia que a Polícia os enquadrasse no crime de VADIAGEM, por isso é realizado no dia do samba (02 de dezembro), o TREM DO SAMBA, uma festa que já se encontra no calendário da cidade. Historicamente em 1929, eles ganharam uma disputa entre Mangueira e Estácio com um samba de Heitor dos Prazeres. Foi uma disputa feita no meio dos bambas organizada por ZÉ ESPINGUELA (famoso Pai de santo da época) e apoiada pelo jornal “A Vanguarda”.    

Em 1931, foi alterado o nome para VAI COMO PODE (devido às dificuldades econômicas) e assim começa a ganhar fama na cidade, que organiza a primeira competição entre as escolas de samba em 1932 através do jornalista MÁRIO FILHO (queria criar um movimento na cidade para vender jornal, pois o campeonato estadual de futebol só começava em março), posteriormente seria homenageado dando nome ao Estádio do Maracanã. Desenvolvendo uma forma original de desfilar e criando um estilo único assim se sucedeu até o ano de 1935, ano turbulento politicamente devido o levante comunista contra Getúlio Vargas, a INTENTONA. Foi determinado que todas as agremiações carnavalescas deveriam se registrar na delegacia de costumes, que tinha como responsável delegado DULCÍDIO GONÇALVES, o mesmo teria achado o nome da escola impróprio e se negou renovar a licença sugerindo que adotassem o nome do endereço oficial, PORTELA, após algumas discussões a alteração foi acatada. Coincidentemente também se sagrou campeã pela primeira vez no novo modelo de competição desse ano. 

Não se pode falar dessa centenária instituição sem citar um dos seus pilares, PAULO DA PORTELA, Paulo Benjamim de Oliveira, foi fundador, dirigente, compositor e mediador entre os sambistas, até então mal vistos pela sociedade da época, e o Poder público. Partiu dele a iniciativa de se ter ensaios rotineiros de canto e uma uniformização que se enquadrasse com a nova ordem política da época do Governo de Vargas, para ele: “O sambista tem que estar de pescoço e pés cobertos”. Consequentemente, gravata e sapato se tornaram uma marca de elegância para os sambistas de Oswaldo Cruz. Também foi a primeira Escola de samba a apresentar alas separadas (a primeira foi a ALA DAS VAIDOSAS), comissão de frente composta pelos fundadores uniformizados (chamada na época de LINHA DE FRENTE, criada pelo pai de Candeia, Seu Antônio Candeia), fantasias e alegorias com as cores do seu pavilhão. Não haveria espaço para o malandro de navalha no bolso e chapéu de panamá na Escola de Paulo. A águia foi desenhada por outro fundador ANTONIO CAETANO, que também teria feito a bandeira e composto alguns sambas. Alguns afirmam, que na verdade ele teria desenhado um condor (ave que voa mais alto na natureza), mas não teria sido compreendido. Em 1968, ela veio no carro abre-alas para nunca mais sair.   

Em cem anos, muitas histórias ocorrem, sem dúvidas uma das mais interessantes é de Natalino José do Nascimento, mais conhecido como NATAL DA PORTELA, outro pilar dessa Escola. Chegou ainda menino ao Rio e teria ido trabalhar na rede ferroviária ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO BRASIL até sofrer um acidente e perder o braço em 1925 sendo demitido por invalidez. Desempregado conseguiu trabalhar de anotador de JOGO DE BICHO aonde teve uma ascensão rápida trabalhando com um famoso chefe local chamado CAPITÃO AMORIM. Ele herda seus pontos de bicho com a sua morte e se torna o maior bicheiro da zona norte dos anos 50. Sua fama cresce proporcionalmente com sua ficha criminal tendo sido preso várias vezes se envolvendo numa disputa com um temido pistoleiro da época chamado CHINA PRETO. Além de uma vida de aventuras esse homem também se envolveu com a direção da Escola de samba e por muitos anos tirou dinheiro do seu bolso para bancar seu carnaval, construí sua quadra e asfaltou 41 ruas no entorno de Madureira. Portela se transformaria na maior campeã do carnaval carioca, título até hoje inalcançável, ele inicia a ligação umbilical entre Escola de samba e jogo de bicho e no seu comando foram levantados mais de 12 campeonatos entre a década de 40 até 60. 

Momento histórico também foi a visita de Walt Disney, levado por Paulo que teria se encantado com o jeito elegante dos sambistas da Portela e muitos pesquisadores defendem ter sido esse encontro a inspiração para a criação do personagem ZÉ CARIOCA, personagem de seus desenhos. Essa visita fazia parte da política de aproximação dos EUA com o Brasil durante a II Guerra Mundial, o samba teve importante papel nesse capítulo da história mundial. A agremiação sempre foi celeiro de bambas do samba carioca sendo frequentada por personalidades como Clara Nunes, Paulinho da Viola, Candeia, Monarco, Zeca Pagodinho, Vilma entre vários (as) outros (as). 

O gigantismo da Portela sem uma preparação administrativa um dia traria suas consequências e seu crescimento junto com os previsíveis conflitos internos provocaram alguns rachas que enfraqueceram ainda mais a Escola. A primeira grande crise foi gerada com a saída de seu grande fundador Paulo da Portela, provocada por um mal entendido entre ele e a direção, devido sua aproximação com os sambistas de outras escolas, fruto de sua liderança no mundo do samba. A segunda teria ocorrida com a saída de Candeia, considerado um dos maiores compositores que a Escola já teve, que criticava o cenário dos anos 70, quando a quadra passa a ser muito frequentada por membros da classe média e turistas, passa a ser acusada de abandonar suas raízes e descaracterizar o samba, saiu e fundou o Grêmio Recreativo QUILOMBO, que seria um importante movimento de resgate cultural já na segunda metade década de 70, no subúrbio do RJ. E, na década de 80, a saída de vários integrantes para a criação de outra Escola de Samba, a TRADIÇÃO, movimento liderado por Nézio nascimento, filho de Natal e foi acompanhado por alguns ilustres membros, como Vilma Nascimento, entre outros. A consequência disso tudo foram décadas sem título, algo inusitado para os portelenses. Amargou um jejum de 10 anos, entre a década de 70 e 80, e depois outro jejum de 33 anos. 

A chegada do carnavalesco Paulo Barros  conseguiu trazer esse gigante do carnaval para a modernidade dos dias atuais e assim a Escola voltou a ganhar um título em 2017 com o Enredo “ … Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver esse rio passar ?…”, inspirado em um samba de Paulinho da Viola. 

No final de 2021, a Escola de samba se tornou patrimônio imaterial do Estado do Rio de Janeiro e junto com a MANGUEIRA e ESTÁCIO são consideradas as bases para o surgimento desse fenômeno chamado SAMBA que conquistou o mundo inteiro e exporta a cultura brasileira para os quatro cantos do mundo, por isso é chamada de a MAJESTADE DO SAMBA !!!  

André Luiz S. Marinho

(Contramestre de capoeira Angola e pesquisador de cultura popular )

Veja mais sobre cultura 

Instagram – @bondeangola

Facebook – André Marinho

Achou o conteúdo interessante? Compartilhe!!

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on email
Share on whatsapp
Share on telegram

Últimas Notícias