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A QUEDA DO REINO DE DAOMÉ (invasão francesa)

October 10, 2023

No dia 04 de outubro, caiu um dos Reinos africanos que teve muita importância para a economia do Brasil escravagista da época do Império, o Reino de Daomé (atual Benim). Sua queda ocorreu com a ocupação definitiva da França em sua capital ABOMEI, em 1892, na Batalha de DJEBE, durante a SEGUNDA GUERRA FRANCO-DAOMEANA.

O Reino de Daomé foi tão estratégico para o tráfico negreiro no Brasil que possuiu um representante em Salvador chamado CHURUMÁ NADIR. Sua representação ocorreu no ano de 1750 a ele foi dado regalias de chefe de Estado e estadia no Colégio dos Jesuítas. Contrastava com a presença negra das ruas de Salvador, pois desfilava com toda a pompa de um soberano o que chamava muita atenção dos moradores locais. Permaneceu 6 meses no Brasil fechando parcerias comerciais e apaziguando alguns conflitos entre Daomé e o Reino de Portugal. 

Economicamente sua importância aumenta a partir da expansão bélica iniciada pelo rei AGAJÁ que trava várias guerras pelo controle da Costa do Marfim, região que passa a ser vital para o nefasto tráfico humano de negros. Ele ataca e domina os importantes reinos de AJUDÁ (que possuía um importante porto e o Forte de São Batista de Ajudá), Aladá, Tofo e Ouémé (aonde era localizado Porto Novo, também de extrema importância econômica). Agajá foi um soberano de Daomé muito temido pela destruição que promovia nos vilarejos e reinos que atacava. Tinha o costume de decapitar seus inimigos e deixava seus crânios espetados em estacas por volta do seu palácio, em Abomei. A Costa da Guiné passou a ser conhecida como, COSTA DOS ESCRAVOS.

Agajá iniciou a carreira militar assumindo o comando das tropas de seu irmão WEGBAJA e aos 19 anos, em 1716, assumiu o trono. Com ele o reino cresce para aproximadamente 200 mil habitantes, possuía o rosto marcado por várias cicatrizes de varíola e foi sucedido pelo seu filho, TEGBESSO, em 1740. No seu reinado, Daomé se tornou um Estado militarizado e centralizado que passa a ter o tráfico de humanos africanos como base de sua economia e assim obrigava cada vez mais declarar guerra aos reinos vizinhos para escravizar seus povos. O comércio de armas de fogo com os países europeus também era essencial para a manutenção de seu poder bélico.

Esse contato comercial permitiu que o Ocidente conhecesse e estudasse bastante sobre sua história e cultura desse reino. Outra história que ficou muito famosa foi da guerra entre os dois irmãos sucessores do trono, ADANDOZAN e GUEZO. O primeiro governou o reino por muito tempo, mas teria que abdicar do poder devido uma determinação do oráculo de IFÁ (semelhante ao jogo de búzios dos iorubás) para seu irmão por parte de pai Guezo. Quando seu pai morre ele manda a mãe de seu meio irmã para o Brasil como escravizada e troca seu nome NA AGOTIME por MARIA JESUÍNA. Ao chegar no Maranhão, a mesma é reconhecida pelos negros aqui escravizados e se torna uma liderança dos negros maranhenses fundando o terreiro CASA DAS MINAS, que inicia a tradição JEJE em São Luis. Guezo ao saber toma o poder trava uma guerra interna com seu irmão e envia seu trono  para o Brasil, presenteando D. João VI, para abolir seu nome da dinastia da família. O mesmo fazia parte do acervo histórico do Museu Nacional e foi destruído no vergonhoso incêndio de 2018.

Logo em seguida, Guezo fortalece o poder militar do Reino e por não confiar nas tropas que já foram comandadas pelo seu irmão dá autonomia para um grupamento militar especial que havia chamado de AHOSSI formado apenas por mulheres (Foto) e as transforma em sua guarda pessoal. No seu reinado elas chegam ao contingente de aproximadamente 6000. Elas não podiam se casar, ter filhos e oficialmente eram casadas com o rei. Possuíam grande status social de forma que pessoas do povo não podiam as olhar nos olhos, quando andavam nas ruas, ao terminar os árduos treinamentos, que se iniciavam na fase infantil, e serem integradas a tropa recebiam uma Winchester (fuzil automático), porrete e facão especial, todos para uso pessoal.  Há vários relatos de viajantes sobre elas. Além de protegerem o rei e o Palácio participaram de várias batalhas tendo sido vitoriosas em inúmeras.

 Devido essa estrutura era importante invadir outros reinos menores e dominar as rotas do tráfico, mas houve um Reino que impossibilitou essa ascenção, o Reino de OYÓ (que se localizava no interior do continente, na região sul da atual Nigéria). Por perder a batalha com esse Reino Daomé teve que pagar tributos para poder passar com os capturados nas batalhas. As guerras entre esses dois reinos chegou a assustar os países europeus, pois havia épocas que os navios negreiros nem podiam aportar na região. Também causou um grande desespero aos pequenos reinos que viviam entre eles, aonde criaram a CONFEDERAÇÃO MAHI, que sofreria milhares de invasões e teve vários de seus membros escravizados e enviados para as Américas, aqui receberia a denominação de povos JEJE ou MINA. Um pouco dessa história é contada no filme MULHER RAINHA com Viola Davis.

No aspecto religioso, tanto daomeanos quanto os povos ditos mahi tinha em sua maioria a etnia FON e cultuavam à devoção e culto aos VODUNS entidades com o qual eles se relacionavam e faziam contato com o espiritual. Dessa região é oriundo o culto ao IFÁ (um jogo com poder adivinhatório muito cultuado em Cuba e no Brasil) e também muitos negros dessa região foram enviados para a América Central (Haiti, Honduras, Nicarágua entre outros) aonde o colonizador acabou denominando a religião pelo nome das entidades cultuadas. Posteriormente, o cinema discriminatoriamente passa a chamar de VODU HAITIANO e o caracteriza de forma pejorativa. No Brasil, eles são mais cultuados no maranhão (como já dito) e na Bahia nos terreiros de candomblé JEJÊ.

Com o bloqueio ao tráfico negreiro feito pela Inglaterra o reino se enfraquece economicamente e politicamente e o seu cobiçados portos passa a ser pretendidos pela França e Inglaterra que dão os primeiros passos na corrida pela colonização do continente africano, reproduzindo a antiga rivalidade entre os dois países europeus. A Inglaterra invade Porto Novo em 1861, que pede ajuda a França na qual já havia uma parceria comercial. A mesma passa a ocupar militarmente a região desagradando Daomé isso gera a I Batalha entre França X Daomé em 1889, que logo teve uma trégua. Com o clima de hostilidade que se criou se iniciou a II Batalha, quando França recebe reforços e também apoio de tropas da região de Porto Novo e vence Daomé ocupando sua capital Abomei, a partir da BATALHA DE DJEBE. O Reino se tornaria uma colônia francesa. Somente em agosto de 1960 eles irian conquistar sua independência da França, mas mudaria seu nome para Benim.

André Luiz S. Marinho
(Contramestre de capoeira Angola e pesquisador de cultura popular)

Veja mais em:
@bondeangola
Facebook – André Marinho

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