“Saravá jongueiro velho,Que
veio pra ensinar
Que Deus dê proteção
Ao jongueiro novo
Pro jongo não se acabar”
(Mestre Jefinho Tamandaré)
Essa semana recebi a triste notícia do falecimento de Norma Suely Pereira, ou como era conhecida no meio cultural de DONA SÚ, última companheira do mestre DARCY DA SERRINHA e grande referência para mim do jongo carioca urbano. Os dois fazem parte de uma famosa história de união que surge no mundo cultural carioca e ao se encontrarem formaram uma dupla que passou a dividir palcos e o jongo.
Primeira vez que ouvi falar no jongo foi na capoeira, através do meu Mestre (Arerê). O que sempre despertou minha curiosidade, mas só quando começamos a treinar na Lapa, no ano de 1993, comecei a ter a dimensão do que era, através dos contatos do meu mestre com Darcy. Lembro-me de quando assisti um show do mestre na Concha Acústica da UERJ, que muito me marcou.
Já no final dos anos 90, Mestre Darcy se afastou da Serrinha e começou a desenvolver uma linha de trabalho diferente daquela do grupo com o qual trabalhara tantos anos (incluindo instrumentos de corda e sopro para shows). Dessa divisão, surgiram dois grupos de jongo: o JONGO DA SERRINHA e o JONGADOS NA VIDA. O primeiro fica sendo coordenado por alunos e parceiros da própria comunidade e o outro pelo mestre junto com seus alunos da IFICS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – UFRJ), localizado no Centro do RJ, ao qual ele liderou até sua morte.
Com o falecimento do mestre no final de 2001, o grupo ficou sob responsabilidade de Dona Sú, sendo reconhecida como Mestra jongueira, que junto com as atividades desse grupo ministrou aulas de jongo na sede da ONG Ação da Cidadania, localizada em Santa Teresa. Um aluno seu morou em Cabo Frio, na Região dos Lagos, interior do Estado, e assim ela foi convidada a iniciar um trabalho de estudos de jongo com uma nova geração de simpatizantes dessa tradição na cidade, junto com o coletivo TRIBAL.
Eu já morando em Macaé, desde 2005, recebi a notícia através de uma conhecida que havia esse trabalho com jongo na região e me aproximo desses coletivos, quando conheço a mestra e vários de seus alunos. Nesse intercâmbio, junto com mestre DENGO (mestre de capoeira da cidade de Macaé) trouxemos os alunos da mestra para realizar a I OFICINA DE JONGO DE MACAÉ, em maio de 2013, entre eles, podemos citar Soraya, Vantuir e Letícia.
Esses intercâmbios foram essenciais para melhorar meu entendimento sobre o jongo, entender sua importância dentro da cosmogonia Bantú, suas ritualidades e me instigar em buscar e pesquisar mais informações. Sendo assim, conheci o QUILOMBO DE SÃO JOSÉ, em Valença, Mestra NOINHA (Campos dos Goytacazes) e passei a frequentar a FAZENDA MACHADINHA, em Quissamã, local que considero um dos maiores focos de resistência cultural do Estado do Rio de Janeiro. E com essa responsabilidade, procurei me tornar um multiplicador do POUCO que aprendi e espero continuar aprendendo com os Mestres jongueiros. Realizei grupos de estudo na UFF-Rio das Ostras, realizando rodas e oficinas, já toquei em festas de Preto Velhos e tive um imenso prazer de realizar atividades com crianças da APAE de Macaé, além de outras atividades.
Inclusive estou iniciando um novo projeto com jongo na cidade, junto com MVC (Movimento Voluntário Cultural de Macaé).
Todo esse esforço é em nome da divulgação dessa tradição secular Bantú de nossa região sudeste.
DONA SÚ seus ensinamentos continuarão sendo passados.
Descanse em paz, junto do mestre Darcy
Não vamos deixar o jongo morrer !!!
Machado …
André Luiz Silva Marinho
(Contramestre de capoeira Angola e pesquisador de cultura popular)
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