Nesse dia do índio é importante fazer a mesma pergunta de sempre, há o que comemorar? Com a atual situação de abandono e falta de políticas públicas para as etnias indígenas que ainda existem no país, ao invés de dia do índio deveria se comemorar o dia da LUTA PELA CAUSA INDÍGENA. O que o Brasil faz para a defesa da cultura e ensino da história indígena brasileira? Nosso povo nem nas escolas aprende algo sobre as memórias desse legado, apesar dele ser encontrado o tempo inteiro em nomes de ruas, comidas, bairros e várias outras referências.
Sabe-se hoje que havia duas tradições indígenas no Brasil pré-cabralino (antes da chegada de Pedro Álvares Cabral em 1500), os SAMBAQUIEIROS e os ÍNDIOS AMAZÔNICOS. Os primeiros tinham como maior identidade, os SAMBAQUIS, pilhas de sedimentos, principalmente de conchas e ossos de animais, areia, urnas fúnebres, um morro de terra à primeira vista para um desavisado, mas na verdade eles são carregados de simbolismos e ritualidades até hoje pouco conhecidas, eram seu centro de vida social. Não se sabe o verdadeiro motivo de suas construções, porém alguns encontrados em Santa Catarina possuem grande complexidade chegando a medir 40 metros de altura e mais de 500 metros de comprimento. Dentro deles já foram encontrados adornos, armas de caça, resquícios de fogueira, também de rituais de sepultamento e oferendas. Também já foram encontradas esculturas em pedra e em osso, que não se sabe se possuíam o intuito de alguma adoração. A verdade é que eles constituem um grande segredo ainda.
Enquanto isso, na Amazônia há o que alguns cientistas chamam de “berço das culturas” pré-cabralinas, partindo realmente do conceito que a ocupação foi feita do Norte para o Sul. Pesquisas recentes realizadas em 2020 por geneticistas da USP (Universidade de São Paulo) e UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) com DNA de remanescentes de índios do litoral de Santa Catarina reafirmaram essa descendência com índios da região amazônica, entre as duas maiores civilizações amazônicas existiram os MARAJOARAS e TAPAJÓS. Os primeiros desapareceram sem ainda uma explicação científica. Foi a primeira sociedade organizada no território nacional e possuíam uma sociedade matriarcal, cerâmica desenvolvida e usavam muitos símbolos representativos (observados nas diversas gravuras existentes na sua arte), os segundos hoje vivem dentro de reservas indígenas no oeste do Pará e mantém seus costumes gastronômicos como o jambu (raiz anestésica) e a piracaia (forma de assar peixe).
Com a superpopulação na região e a busca do mito da terra sem males (um paraíso, lenda da mitologia TUPI) eles migraram em duas levas para o sul: os TUPI-GUARANI desceram o rio Paraná e os TUPINAMBÁS (linhagem mais antiga da etnia) desceram pelo rio Amazonas (Desenho do Mapa). Com sociedades maiores e acostumados a guerrear cientistas defendem que eles dizimaram os sambaquieiros ou os absorveram para suas culturas. Únicas nações que resistiram a essas investidas foram da etnia dos JÊS transformando as duas nações em inimigas seculares (Tupi-guarani X Jês).
Os Tupis também tinham o costume de chamar de TAPUIA todas as etnias diferentes deles. Descendentes dos Tupis dominaram quase todo o litoral brasileiro na região sul (Guaranis), sudeste (Tupinambás, Tupiniquins, Carijós, Tamoios, Temiminós eram as maiores) e no nordeste (Potiguar) e empurraram para o interior as etnias Jês, sendo que só uma se manteve no litoral do norte do RJ e ES (Goitacazes) as demais dominaram o sertão nordestino e sul da Bahia (Aimorés, Cariris e Taririús), atual Mato Grosso (Bororos e Caigangues), interior do Maranhão e Pará (Carajás), sendo esses os maiores, com suas técnicas de emboscada foram os maiores inimigos dos BANDEIRANTES.
Foi no meio dessa batalha travada por milhões de índios que os portugueses chegaram no Brasil, em 1500. Não houve descoberta de um país, já havia uma história acontecendo nesse território, os portugueses foram INVASORES. Através do primeiro contato com as etnias Tupis do litoral são traçadas as primeiras alianças e posteriormente, seriam eles os primeiros a serem exterminados. Extermínio que existe até os dias de hoje com seus descendentes, ou pela violência (praticada por grileiros, cartel de madeireiras, gerada pela proximidade com a cidade entre outros fatos) ou doenças, o corona vírus é a ameaça mais recente.
Dia 19 de abril para quê? Essa história precisa ser revista, falta muita coisa para ser contada. Por uma educação DECOLONIAL nas escolas !!!!
André Luiz S. Marinho
(Contramestre de capoeira Angola e pesquisador de cultura popular)
Veja mais sobre cultura popular:
Instagram – @bondeangola
Facebook – Link: https://www.facebook.com/andre.marinho.9277/posts/10219957238267759