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LP – “O canto dos escravos”

Capa da frente

Em homenagem ao Dia da Consciência Negra, deixo o registro aqui de uma obra fonográfica de grande importância para os estudos afro-brasileiros e registros da cultura oral, o LP “O Canto dos escravos”, gravado em São Paulo, na Gravadora Eldorado, em 1982.

Projeto elaborado pelo famoso sambista paulista GERALDO FILME, compositor de sambas famosos e ícone do carnaval de SP, com forte ligação com o bairro do Bexiga, ele convidou dois ícones cariocas para emprestarem suas vozes também no disco: CLEMENTINA DE JESUS e TIA DOCA da Portela.

O LP faria registro de antigas canções de trabalho dos negros escravizados da mineração, os chamados vissungos. Essas canções são um raro registro da cultura Bantú, maioria entre os negros que trabalhavam nas minas. O projeto foi inspirado no livro “O Negro e o garimpo em Minas Gerais” (Editora José Olímpio) de AIRES DA MATA MACHADO FILHO, aonde o autor conseguiu resgatar 65 cantingas autorizando a gravação de quatorze e cinco partituras registradas naquela obra.

Aires nasceu em 1909 no distrito diamantinense de São João da Chapada, no seio de uma família de destaque político e econômico. Formado em Letras, especializou-se em filologia e se tornou um dos maiores intelectuais de MG, sendo integrante da Academia Mineira de Letras, da Academia Brasileira de Filologia, da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, da Comissão Nacional de Folclore, da Academia Carioca de Letras, da Associação Brasileira de Antropologia, da Sociedade Brasileira de Filologia e do Conselho Estadual de Cultura, uma referência nacional.

Em 1928, gozando férias em S. João da Chapada, município de Diamantina, o filólogo ficou envolvido com as cantigas em língua africana ouvidas nos serviços de mineração. As estadias no arraial passaram a ser constantes e, após conversas com antigos moradores e cantores, passou a fazer anotações sobre aquele rico universo que se revelava para ele. Passou a recolher os “VISSUNGOS”, reunindo ainda o vocabulário e a gramática da “língua de Benguela”, região entre o Congo e Angola. Depois de recolher farto material passou a pesquisar com outros livros de linguistas e etnógrafos, assim estabeleceu confrontos e reforçou hipóteses. Dessa forma nasceu o livro “O NEGRO E O GARIMPO EM MINAS GERAIS” em 1939. Teve o texto publicado pela Revista do Arquivo Municipal de São Paulo e o livro lançado em 1943, pela Livraria José Olympio. A aceitação do trabalho foi tão grande no meio intelectual que, logo em 1945, foi agraciado com o Prêmio João Ribeiro da Academia Brasileira de Letras.

Ao mergulhar no universo dos vissungos os sambistas aproximaram nosso tempo com o canto dos escravos mineiros do século XVIII. As interpretações antológicas, como a de Clementina de Jesus, revelam um canto e uma musicalidade que parecia estar perdida, apesar de ser mostrar tão comum quando ouvida. Vários foram os elogios ao resultado da gravação e estudiosos passam a defender que essa oralidade é um contraponto aos regulamentos impostos e instituídos pela indústria fonográfica. Abriu-se o caminho para projetos semelhantes de busca pela oralidade de nossas tradições “perdidas”. Assim como as missões de pesquisas folclóricas do SPHAN tb fizeram em 1938. Um indício de que a criatividade artística ainda pode propor estéticas musicais que ainda não foram padronizadas.

O LP está disponível no You Tube, no Link: https://www.youtube.com/watch?v=gil3Mw32OnU&fbclid=IwAR2pMwy2Eh4p7iDiqPTSGWfMcaiOrZnbsJeZeKdbQbCZHigUIi4YepZiXDw

Um belo tema para se pensar nesse dia !!!

Vamos nos descolonizar …

André Luiz S. Marinho

(Contramestre de capoeira Angola e pesquisador de cultura popular)

Veja mais sobre cultura brasileira:

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Facebook – André Marinho

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