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O que se comemora no dia 07 de setembro ?

Batalha de Pirajá - Carybé

Passado os festejos, choros no palanque, desfiles militares e toda a pirotecnia que hoje é comum nessa data, o povo deveria se perguntar: – O que se comemora nesse dia? A resposta é: – Nada.

Transformar a data num feriado nacional com direito a desfiles militares e toda essa pompa faz parte de um projeto de construção de uma falsa memória republicana positivista. Ou alguém ainda acha que às margens do Ipiranga ocorreu alguma coisa? Segundo alguns historiadores, Pedro I só parou ali por que estava com uma profunda “crise estomacal”.

A verdade foi que em 1822, Salvador, na época, a segunda maior cidade do Brasil estava dividida, devido a tensão gerada pela Revolta do Porto 1820 (em Portugal). Havia um grande contingente de portugueses morando lá e metade era favorável com o retorno do Brasil à condição de colônia de Portugal, pois D. João VI tinha voltado para Lisboa. A decisão de Dom Pedro de separar o Brasil de sua metrópole, evitando assim uma guerra civil, despertou o ódio de seu pai.

Foram enviados para Salvador 2.500 homens para reforçar os contingentes já existentes na Bahia, a Divisão Auxiliadora, soldados portugueses que foram expulsos pelo príncipe regente do Rio de Janeiro. O plano era dividir o Brasil em dois: Sul e Sudeste ficariam sob o governo de Dom Pedro; Norte e Nordeste sob o domínio português. Para liderar essa campanha veio o português brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo, nomeado novo comandante das Armas da Bahia.

Eclodiram conflitos por toda a cidade fazendo com que boa parte da população fugisse para o interior do Recôncavo baiano. A cidade de Cachoeira e São Félix se tornaram o centro da resistência, pois ficam na foz do rio Paraguaçu, importante entreposto comercial entre o interior e a capital. Foi nesse momento criado o lendário corpo de guerra “Voluntários do Príncipe” ou, chamado pela cultura local de “Batalhão dos Piriquitos”, que arregimentou pessoas do povo (índios, caboclos e negros na sua maioria), Salvador nesse momento estava sob julgo da bandeira portuguesa.

Surpreendentemente, essa parte da história foi por muito tempo omitida no ensino formal das escolas brasileiras afinal para conta-la, teriam que ser lembrados os nomes de seus heróis, gente do povo que morreu no anonimato, tendo seu reconhecimento somente um século depois. Não seria esse tipo de herói nacional que as elites republicanas projetariam para a história.

Como explicar que uma mulher chamada MARIA QUITÉRIA largou sua família em Feira de Santana para lutar e liderar, vestida de homem, as tropas nas Batalhas de Ilha da Maré, da Pituba, da Barra do Paraguaçu e de Itapuã, chegando a ser condecorada posteriormente pelo próprio Pedro I. Outro nome, que impôs pavor aos portugueses chamou-se MARIA FELIPA, negra, marisqueira, com fama de capoeirista, liderou um grupo de mulheres que armadas de facões, navalhas e galhos de cansanção incendiou mais de 3 grandes embarcações e impediu o desembarque das tropas portuguesas nas praia de Itaparica, local estratégico. JOANA ANGÉLICA assassinada dentro do Convento da Lapa por impedir a invasão de soldados. Os portugueses CORNETEIRO LOPES, que deu o comando para o ataque na Batalha de Pirajá, e JOÃO DAS BOTAS, que combateu as forças portuguesas nas águas diminuindo a superioridade marítima. A chegada do reforço de tropas do RJ e de Recife consolidaram a vitória.

Somente em 2 de julho de 1823, a frota de 78 embarcações com 4.500 militares portugueses fugiram para Portugal. Na manhã do mesmo dia, entra em Salvador a resistência popular liderada pelos “Piriquitos” e acompanhado por aproximadamente mil mulheres que os ajudaram nos combates e em serviços de enfermagem e cozinha, oficializando a libertação da Bahia e sua adesão ao Império Brasileiro. A líderes Maria Felipa e Maria Quitéria foram reverenciadas no Curuzu e no bairro da Liberdade !!!

Há registros de conflito também em Recife e Piauí. Se Portugal tivesse dominado a Bahia, seria questão de tempo o envio de Lisboa de todo seu aparato militar contido na Europa e também nas colônias africanas. Haveria uma grande guerra dentro de nosso território.

Enquanto não houver, a menção desses verdadeiros heróis nacionais não há o porquê comemorar essa mentira criada pela República. Nossa história, sempre passará pela participação dos negros, índios, caboclos e demais personagens formadores de nossa população. E nossa data de comemoração deveria ser junto com a Bahia, no dia 02 de julho. Continuar negando isso demonstra como nosso Estado é racista e ainda se nega a reconhecer a importância do nosso povo.

Obs: A pintura de Carybé retrata a Batalha de Pirajá, segundo alguns historiadores, uma das mais sangrentas e importantes, que ocorreram em solo brasileiro.

André Luiz S. Marinho

(Contramestre de capoeira Angola e pesquisador de cultura popular)

Veja mais sobre cultura brasileira em:
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Facebook – André Marinho

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